A saga de um autor de telenovelas
Marcílio Moraes, ao nos
contar a ‘a saga de um autor de telenovelas’, nos inclina a fazer uma correspondência
com Aquiles, o herói vingativo da mitologia grega e guerreiro mais forte e
superior da Ilíada, poema épico de Homero.
Tal como Homero descreve a Ira de Aquiles, já é
possível considerar que encontraremos muita cólera e rancor nesta saga.
De fato! Na primeira
página de 'Entre As Estrelas: Aquiles', a ira do protagonista João Carlos (Joca), o autor de telenovelas, já é evidenciada. Antes mesmo, pela capa do livro: o mar cinza e
turvado, a vista que o novelista tem de seu estúdio, preconiza tempos escurecidos.
Em razão de alterações em seus planos, alterações estas
feitas pelo próprio “Agamenon” da emissora de televisão em que Joca trabalha, conhecemos
o que há de mais verdadeiro na natureza de um homem: O pensamento.
E o pensamento de Joca carregado de fel, tão bem reproduzido,
é concebido de maneira ininterrupta, sem pontuação, linha contínua, onde as
palavras de uma mesma frase competem entre si, espelhando a intranquilidade que
fez moradia naquele ser.
Não me é familiar o ambiente da televisão onde Joca
trabalha, todavia, introduzida nessa atmosfera através das páginas de 'Entre as
Estrelas' e pelas páginas, é possivel reconhecer que se trata de um ambiente em que a comercialização de imagens e produtos se faz mais importante
do que a própria arte; que a palavra dada é a dúvida; e que a pessoa pertencente a esse meio acredita ser virtuosa e abençoada
pelo dom do talento artístico e nada pode derrubá-la.
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Entre as Estrelas: Aquiles (2018) ao lado de Ilíada (edição:1961) |
Aquiles não foi um deus. Joca também não é! Trata-se do homem, e como todo homem, é feito
do pó do solo, do barro, com qualidades e defeitos. Uns com mais defeitos do
que outros.
É praticável entender
Joca em vários momentos. (((Também vim do barro (não da costela) :D ))
Às vezes é impossível disfarçar, com sorriso, o desconforto ao notar a hipocrisia que se hospeda em alguns ambientes sociais; em que fariseus , tal como o autor Marcílio Moraes bem apontou, caminham em nossa direção apenas com braços abertos, mas com ausência de uma cabeça, assim como a escultura de Nice de Samotrácia, prontos para nos causar danos.
Entretanto, os defeitos contidos nele comprovam que ele muitas vezes faz uso das mesmas armas de seus inimigos. Talvez porque ele saiba
que Aquiles não morre na Ilíada... e que para estar entre as estrelas é necessário
que o céu esteja escuro...
Só me restou a pergunta:
Se a previsão for chuva, por que não Gabardine?
" O escritor percebeu o arpão se desprender da arma rumo ao seu peito.Fosse resistir, este era o momento. Ou então deixar ofrio aço atravessar o coração e ir se contorcer inultilmenteno fundo lamacento" (pg.67, Moares, M.)
Tal trecho me fez ouvir a divina voz de Bob Darin, alertando que o tubarão mostra seus dentes brancos perolados... " Não se meta com ele!" ;)