Divagando sobre o livro
Logo no início do livro, conheci
um menino astucioso, sem pais que vive com uma tia contraventora. Sua vida, como a
da maioria das pessoas, tem contratempos e também tem sucessos. Ele cresceu e,
por um acaso falho (ou não) dessa vida, se tornou um gigolô.
Parece
que estou em um bar com um parceiro que se faz amigo depois de uns goles, ainda
que não saibamos seu nome. Desde as
primeiras páginas, digo, as primeiras palavras que escuto dele, sorrio com ele,
me divirto, bebemos mais outro gole, pedimos mais uma garrafa...
Quando
ele me conta que trabalhou para um cego, servindo-lhe de guia, eu até me afogo
com a golada. A tosse com risada é principiada por conta de seu desajeitamento
profissional. Também causa gargalhadas suas desventuras com os cadeirantes, suas
presepadas no clube, me desperta admiração seu talento como compositor, como
escritor de cartas... Devo relatar que não
assisti ao filme de 1970 e também a minissérie de 1983. Memórias de um Gigolô
aconteceu para mim de uma maneira espontânea. Minha irmã leu e me recomendou. Nos
tempos de colégio, eu já havia lido Marcos Rey. Em suas histórias juvenis como
O Mistério do Cinco Estrelas e Um cadáver ouve rádio, ele contava as aventuras
de jovens que investigavam determinados assassinatos.
Já
em Memórias de um Gigolô, Marcos Rey conta a vida. E, ao longo de sua história, eu sorrio demais. Esse meu
amigo do bar também me conta de seus amores, suas inimizades... Ele tem o dom de cativar
simpatia e amor contando sua história. E no momento em que estamos sentindo aquela dor
muscular no abdômen e no maxilar de tanto rir, fechamos os olhos para tomar
fôlego, respirando e suspirando ao mesmo tempo, ele, com algumas palavras, nos causa um choque. Toda risada acaba, toda quimera afunda. É como se ele cravasse uma faca no nosso coração fascinado pela diversão que a vida é. E essa
facada tira toda ilusão da própria vida, todo o contentamento quando
descobrimos que a história dele também é a história do meu irmão, do meu pai,
do meu vizinho, a minha própria, a de Mariano e também a sua história.
E aquelas risadas e os goles que
serviram para sonhar a nossa vida, são apenas moldura de uma tela que um véu
encobria. Eu e meu amigo, no final de suas memórias, nos abraçamos com os
olhos úmidos de lágrimas. No final ele contou-me também o seu nome.
E o que aprendi com ele, depois do susto de ver o
caminho do futuro, foi saber que uma tela sem moldura é apenas uma tela. Agora, uma tela com uma moldura pode se
tornar uma linda paisagem.
Aprendamos colocar beleza em
nossa moldura para transformarmos nossa tela em uma encantadora paisagem.
Afinal não é o futuro que faz o quadro,
mas o presente.
Obrigada Mariano. Obrigada Marcos
Rey. Obrigada Dixi.
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"Nunca conversamos sobre o passado. Sabemos que é inútil remexercoisas já vividas(...)Vendo que tinham mudado por fora, descobri que tinhammudado por dentro, e acabei mudando também" |